quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Fábula da Lagartinha

Era uma vez uma lagarta. Como todas as outras lagartas, esta pequena lagartinha tinha um grande desejo de virar borboleta e voar. Mas, infelizmente, esta lagartinha tinha muito medo do escuro.

Por ter medo do escuro, a pequena lagartinha recusava-se a tecer seu casulo. A ideia de passar algum tempo presa na escuridão era assustadora demais e ela dizia não estar preparada. Afinal, era uma jovem lagarta e teria todo o tempo do mundo para se preparar para aquele desafio. Enquanto isso, ficava contente por ter folhas verdes e frescas à sua disposição.

Por mais que desejasse voar, a pequena lagartinha não podia dizer que era infeliz com sua vida de lagarta. O conhecido era confortável e ela ficaria assim até a coragem aparecer.

Mas o tempo passou e a pequena lagartinha não criou coragem, não perdeu o medo do escuro e não teceu seu casulo. Todas as outras pequenas lagartinhas, como ela, se tornaram grandes lagartas. Mas, diferente dela, as outras grandes lagartas teceram seus casulos, passaram seu tempo na clausura da escuridão e então renasceram belas borboletas.

A pequena lagartinha, agora grande e gorda de tanto comer folhas, via suas velhas conhecidas sobrevoando seu jardim - as mais belas e coloridas borboletas - e as invejava. Mas, embora seu corpinho já não fosse mais verde e tendesse mais para o marrom, e suas perninhas já não fossem mais tão fortes, a gorda lagartinha ainda não se sentia preparada para enfrentar a escuridão de um casulo.

Então, um dia, a gorda lagartinha que agora era também uma lagarta velha e fraca se sentiu mais fraca ainda. Achou um cantinho no meio das raízes das plantas do seu jardim e permaneceu ali, pensativa. Descobriu então que ficou presa na escuridão a vida inteira porque, embora não tenha sido exatamente infeliz, nunca viveu em sua plenitude. A gorda lagartinha velha descobriu que o medo de ficar presa por pouco tempo na escuridão lhe tirou a liberdade de uma vida inteira voando à luz do sol.

Então, depois de entender tudo isso, aquela pobre lagartinha deu um último suspiro. E morreu sem nunca ter podido voar.