quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Bosque

De repente se viu numa floresta escura. A mata era densa, fechada, e a noite já caía. O silêncio era cortado apenas pelo farfalhar das copas das árvores e os sons dos pássaros se ajeitando no ninho.

Poderia se sentir segura, finalmente sozinha. Mas sabia que continuava sendo seguida, embora tivesse perdido a noção dos passos apressados que antes pareciam tão próximos.

Olhou ao redor e não viu nada. Respirou fundo e começou a procurar algum esconderijo onde pudesse passar a noite. O vento frio soprou mais forte e as folhas se agitaram com mais intensidade. Foi então que pensou ter ouvido os passos novamente.

Ouvidos atentos e olhos arregalados, tentando pescar alguma informação no meio do silêncio e da escuridão. Sim, eram os passos. Sim, estavam próximos.

Sem saber o que fazer, começou a correr na direção contrária ao som. Passava por arbustos, pisava a terra, tropeçava em pedras, mas seguia correndo. Seus pés descalços já estavam feridos e os braços carregavam arranhões dos galhos das árvores. Mas o medo era mais forte que a dor, e ela continuou.

Os passos pareciam cada vez mais próximos, enquanto buscava desesperadamente por uma saída. Uma casa, uma estrada, alguém... Mas tudo o que havia além da mata era a lua cheia no céu.

Quanto mais se embrenhava pelo bosque, maior era sensação de que não estava sozinha. Os ruídos aumentavam e, por vezes, pareciam sussurros. A escuridão tomava conta de tudo, cobria como uma manta as árvores, o mato, a terra. Mas ela sentia que estava sendo observada.

Tateando por entre troncos, encontrou um espaço que parecia seguro. Já não ouvia os passos, embora outros sons a deixassem muito mais apavorada.

Sentou-se junto à cavidade de um enorme tronco e parou novamente para observar ao redor. No escuro, as árvores parecem ganhar vida. Com os relances do luar, seus troncos parecem corpos retorcidos e, às vezes, quase é possível ver rostos humanos em suas reentrâncias.

Observou atentamente aquela imagem horrorizante. Parecia estar no inferno, vendo almas desesperadas tentando livrar-se do fogo. Os sussurros continuavam e ela tinha a impressão de que eram lamentos. Quanto mais tentava se distrair, mais altos ficavam.

O som dos passos já não podia ser ouvido. Nem o farfalhar das folhas. Nem os pássaros se ajeitando em seus ninhos. Os troncos das árvores gritavam!

Assustada, pressionava o corpo contra sua árvore. Aquela que pareceu um abrigo. Aquela que ela escolheu como esconderijo.

Quanto mais pressionava o corpo contra a casca dura e áspera do caule, mais calor sentia. A pele ardia e parecia derreter. Tentou levantar, mas seu corpo estava pesado. Os movimentos eram lentos e ela se sentia sugada para dentro daquela cavidade.

Olhou para baixo e já não conseguia ver os próprios pés. Não podia distingui-los na escuridão. Parecia que só havia casca de árvore ali....

Gritou por socorro. No momento de desespero, desejou que o dono daqueles passos a encontrasse. Talvez ele fosse misecordioso o bastante para salvá-la. Mas não. Não havia mais ninguém.

Lembrou do início da noite e desejou que nunca tivesse escolhido fugir para o bosque. Qualquer coisa que ele lhe fizesse seria menos aterrorizante do que o pesadelo que estava vivendo.

Esticou o corpo o máximo que pode e tentou sair dali. Mas foi paralizando, perdendo os movimentos e a sensibilidade. Já não conseguia ver seu corpo, suas roupas, seus braços. Tudo parecia árvore. Apenas ávore. Até que seu rosto foi engolido por uma onda de calor intensa e dolorida.

A visão ficou turva e ela perdeu os sentidos. O calor diminuiu até finalmente se transformar em frio. Ela já podia sentir a brisa noturna novamente.

E, de repente, ali havia apenas uma árvore. Mais uma árvore entre tantas outras que, noite após noite, lamentariam sua dor em sussurros assustadores.