quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Casa

Morava ali não havia muito tempo quando aquelas coisas estranhas começaram a acontecer. No início, achou que era o cansaço. Vinha trabalhando muito, as coisas no escritório estavam pegando fogo. Quase não dormia, acordava muito cedo, mal tinha tempo de comer. É fácil confundir a realidade quando a mente está tão cansada.
 
Mas aí o tempo passou e as coisas começaram a melhorar. Veio um feriado daqueles ótimos pra descansar e ela dormiu bem, colocou a cabeça no lugar. Estava renovada quando, na segunda noite daquele feriadão perfeito, escutou os tais barulhos que a incomodavam. E agora não tinha desculpa. Estava mesmo ouvindo alguma coisa.
 
Não é que fosse uma coisa sobrenatural. Parecia mais com ratos, talvez. Era um som de alguma coisa roçando no chão? Na parede? No teto? Talvez fossem morcegos presos entre o telhado e o teto da casa...
 
Resolveu levantar da cama e investigar. Queria saber de onde o som vinha.
 
Andou pela casa inteira, mas aqueles barulhos pareciam ecos, vindos de todos os lugares ao mesmo tempo. Com o tempo, o som foi ficando mais definido e, com isso, mais parecido com o arrastar de pés. Talvez estivesse com medo. Talvez estivesse imaginando coisas.
 
Parou, respirou. Tentou aguçar a audição ao máximo, e então conseguiu perceber a origem daquele barulho, que ficava cada vez mais alto. Ouvia gemidos e vozes abafadas vindo de uma parede?! Agora não parecia mais sonho, parecia bem real e estranho. Ela sabia que estava acordada e lúcida.
 
Foi para a área de serviço da casa, guiada pela audição. O barulho era cada vez alto e claro. Ouvia lamentos, passos, vozes. Quanto mais se aproximava da parede do fundo da despensa, mais certeza tinha de que era dali que o som vinha. Tocou a parede. Podia sentir uma vibração vindo de dentro dela, como se fosse oca. Nunca tinha reparado naquilo, mas agora percebia que aquela parede era bem fina. Socou e pareceu apenas madeira.
 
O desespero a dominava com tanta intensidade que ela deixou a razão de lado. Pegou um martelo e começou a bater na parede, abrindo um buraco. Então vieram os gritos e ela quase foi jogada pra trás por sombras que pareciam ter a densidade de corpos. Aquelas coisas vinham em sua direção numa atitude de súplica. Seu coração batia acelerado e sua respiração já falhava, quando tomou coragem para continuar. Acabou de derrubar a parede e entrou num cubículo escuro, em meio àquelas sombras.
 
A luz da despensa penetrou o lugar, para revelar um amontoado de corpos decompostos, alguns dos quais já desfeitos em restos de ossos.

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