quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Teste Pro Grupo de Teatro

Eu estudava na UERJ, onde eram oferecidas várias "oficinas artísticas", que tinham duração de aproximadamente seis meses e variavam a cada semestre. Logo no meu primeiro período de faculdade, fiz um trabalho onde precisávamos escolher algum setor ou serviço da universidade, e escrever sobre ele. Escolhi escrever sobre as oficinas.

Naquele semestre, estava sendo oferecida a "Oficina de Iniciação Teatral". Fui conhecer o trabalho dos responsáveis e fiquei sabendo que era um projeto não para atores profissionais, mas para pessoas sem experiência que gostariam de aprender teatro. Eles desenvolviam vários exercícios e, ao final, escolhiam uma peça para apresentar, que era montada de acordo com as sugestões do próprio grupo. Adorei a idéia.

Algum tempo depois, procurando alguma coisa interessante para fazer além de estudar, pensei em participar de alguma oficina. Havia oficinas de música, de teatro, de TV. Pensei na "Oficina de Iniciação Teatral" porque, afinal, tinha visto o trabalho deles e tinha gostado muito.

Quando fui fazer a inscrição, percebi que alguma coisa tinha mudado. Lá no primeiro período, eram duas oficinas de teatro: uma de "iniciação" de teatral e outra de "criação" de teatral. Dessa vez, havia apenas uma, a de iniciação teatral. Achei meio estranho e, pra garantir, perguntei para a moça da secretaria se era a mesma coisa que eu tinha visto. Ela me garantiu que sim.

Fiz a inscrição e fui informada de que haveria uma seleção, porque era preciso limitar a turma. Perguntei se seria alguma espécie de teste, se era preciso usar alguma roupa especial ou levar alguma coisa, e a mulher que estava me atendendo disse que não, que era mais uma reunião para conversar, para saber quem tinha realmente interesse em participar, essas coisas. Fiquei aliviada, afinal não tinha nenhuma experiência como atriz.

Chegou a noite da tal reunião e lá fui eu, de calça jeans e sandálias de salto, para o prédio onde funcionavam as oficinas. Eu tinha certeza de que, no máximo, teria que sentar no chão e falar sobre mim e sobre minhas expectativas na frente de todos os presentes. Nada mal...

Quando cheguei no lugar, havia uma infinidade de pessoas numa quadra. Vários estavam usando roupas de ginástica, vários notavelmente já eram atores e vários pareciam simplesmente loucos. Encontrei uma garota que estava tão perdida quanto eu e começamos a conversar. Ela também estava um tanto assustada porque, como eu, imaginava que teria apenas uma conversa sobre suas expectativas. E, pelo o que estávamos vendo, aquilo seria nada mais nada menos do que um teste de elenco!

A tal professora da oficina era uma diretora, com uma peça já estipulada para montar, que estava escolhendo os seus atores. O problema é que, aparentemente, nem todos os presentes sabiam disso. Aliás, ela não sabia do objetivo real da oficina e nem os organizadores sabiam do objetivo dela. Tremenda falta de organização!

Eu estava apavorada, confesso, mas não sou de sair correndo. Então, já que estava ali, mãos à obra! Paguei micos múltiplos no meio de vários atores... Pra meu consolo, não fui a única.

Tive que improvisar uma interpretação de um texto de Shakespeare na frente de todo mundo, engatinhar pelo chão imundo da quadra, fazer caras e bocas pra demonstrar as emoções que a mulher sugeria na hora e por aí vai. E tudo no susto!

Não preciso nem dizer que não fui escolhida, né? Eu já sabia disso lá pelo meio do tal teste e tive vontade de calçar minhas sandálias novamente e ir embora. Aliás, fui a última a me apresentar em um dos exercícios, porque estava considerando seriamente se devia continuar ou não. Mas uma força em mim me fez ficar até o final. Não sei porque essa força resolveu se meter onde não devia, mas... o que eu podia fazer?

Saí de lá toda suada, suja e me sentindo algo perto de humilhada. Não humilhada, porque a palavra é muito forte... mas alguma coisa por aí. Minha sensação era de eu tinha feito papel de palhaça, involuntariamente, para um monte de gente.

Só depois que a raiva passou é que eu consegui tirar alguma coisa boa da experiência. Foi um bom teste pra minha timidez, afinal. Mas, ainda assim, as minhas lembranças hoje se parecem mais com um pesadelo...

Na próxima vez que eu me deparar com uma situação inesperada, nada de "força interior"! Eu vou é embora!

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